quinta-feira, 1 de abril de 2010

Pé de Baraúna - Claude Bloc


O que restava do pé de baraúna até uns 4 anos atrás


.Quando crianças, acreditamos em tudo. Nos põem medo do que não existe, criam enredos que passam pela tangente da imaginação, rebocam as paredes da nossa criatividade, sem direito a pesar ou medir o resultado do desenlace e a autenticidade dessas fantasiosas empreitadas.


.Pois foi lá em Serra Verde que me apareceu uma dessas histórias meio escabrosas a qual, na verdade, nunca quis experienciar, nem fazer o teste de S. Tomé.


Era o seguinte: todo final de tarde a turminha de irmãos, primos e amigos que passavam as férias na casa-sede com a gente, depois de um bom banho no açude, seguia em bando para passear a pé pela fazenda. Havia algumas opções para os passeios: dirigir-se à Represa (do açude) onde morava a família Carlos, João Paulo e “Sulidade”, Maria de Geraldo, João Soares e João Franco com suas devidas famílias. Ir até o engenho no mês de julho, ou simplesmente ir à bodega de Seu Moreira, pra comprar algum bombom. Ir até o Jardim, sítio dos Botelhos e Aurélios (Orelo), que ficava perto do engenho ou pros lados do Guedes, aonde depois vieram morar Mãe Cândida (Cãida) e Mãe Naninha, duas irmãs, boleiras de mão cheia. Havia também a opção de subir a ladeira da Serra, em direção à casa de Seu Manoel Dantas. Cada tarde havia, portanto, uma opção diferente para se escolher.


Nesses passeios, em cada terreiro uma saudação aos donos da casa, um gracejo, ou se ia “escruvitiar” pelo chão de terra em busca de pedrinhas coloridas ou, quem sabe, subir nos pés de cajarana em busca dos frutos de vez... Eram portanto, mil estripulias, sem contar com o drible às vacas que ruminavam pela estrada, ou pelos terreiros das casas...


Quando se ia à Represa, o passeio era mais aprazível. Seguia-se pela orla do açude, sentindo o hálito da tarde refrescando-se aos poucos até amofinar-se na boca da noite. Na hora em que os primeiros sinais da noite apareciam e os sapos e a jias começavam sua serenata inteiriça, a gente, “foi-não foi”, voltava naquela algazarra, trotando em cavalos de pau tirados da própria mata, cantando e apelidando uns e outros, mesmo que o freguês não gostasse... Atrás de nós, os rabiscos dos galhos pelo chão traçavam sonhos que mais tarde a gente buscava naquela terra como remédio para as nossas fragilidades hodiernas.


Já quase chegando em casa, subíamos a última ladeira que embeiçava o açude e fatalmente passávamos por um velho pé de baraúna, altivo e sinistro. Seu tronco ocado estava sempre quase abarrotado de pedras atiradas pelos passantes. Aquele vão no tronco da árvore parecia nunca se satisfazer, pois nunca estava completamente cheio. Naquele nosso tropel, sempre conduzimos alguma pedra na mão para ali depositarmos o que, para nós, significava uma passagem sem sustos para o que nos restava de caminho até chegarmos em casa. Assim, acreditávamos estar alimentando a árvore e dessa forma não correríamos o risco de ver a assombração que aparecia no pé de baraúna a partir do cair de uma noite fechada.


Pois é, seu João Franco e Seu Joaquim Carlos juravam ter visto sair dali, no meio da escuridão, um cachorro preto de olhos de fogo... E o bicho só parava de segui-los quando chegavam no terreiro da casa-sede. Daí......... você se arriscaria a passar lá de noite sozinho/a? Quem disse? (Eu também não!)


O que se soube foi que um dia o cachorro dos olhos de fogo “deu uma carreira” em Seu João Franco e o mordeu (não sei aonde)... E conta a lenda que toda noite de lua cheia seu João Franco virava lobisomem.


Acredita nisso? Não?


Texto e foto digitalizada por Claude Bloc


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SANTO DO NORDESTE: Imagem do Padre Cícero é colocada na Sé Catedral


O "Roteiro da Fé" no Padre Cícero poderá ser ampliado com a inclusão da Sé Catedral nos pontos de visitação


Crato. Mesmo antes de ser reabilitado de suas ordens sacerdotais, o Padre Cícero já está na porta de entrada da Sé Catedral deste município. As imagens do "Padim" e de Nossa Senhora das Dores estão juntas na entrada da Igreja, ao lado da pia onde o sacerdote foi batizado, no dia 8 de abril de 1844. É a primeira vez que a imagem do "santo do Nordeste" é colocada dentro de um templo católico. Nem mesmo em Juazeiro, onde o "Cearense do Século" é venerado como santo, a Igreja acolheu o Padre Cícero em seus altares.


O escritor Lira Neto, autor do livro "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão", afirma que, "apesar da imensa fé dos sertanejos, a imagem do sacerdote ainda não está nas igrejas de Juazeiro". "Encontramos, apenas, um vitral dele na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde o corpo do religioso foi sepultado", complementa.


O cânon 1.188, do Código de Direito Canônico, uma espécie da Carta Magna da Igreja Católica, recomenda que "mantenha-se a praxe de propor imagens sagradas nas igrejas, para a veneração dos fiéis; entretanto, sejam expostas em número moderado e na devida ordem, a fim de que não se desperte a admiração no povo cristão, nem se dê motivo a uma devoção menos correta". O problema é que, oficialmente, o Padre Cícero ainda não foi reconhecido como santo pela Igreja Católica. "Ao contrário, ele morreu proibido de ministrar os sacramentos", questiona um religioso que prefere não se identificar.


"Sinal dos novos tempos, essa atitude do Cura da Sé, padre Edmilson Neves, apoiado por dom Fernando, é extremamente significativa não apenas do ponto de vista religioso, mas também social, econômico e político", diz o professor de história da Universidade Regional do Cariri (Urca), Océlio Teixeira, destacando que, com essa atitude, a Diocese está abrindo caminhos para a superação da tradicional cisão entre as duas maiores cidades do Cariri. "Oxalá, que os poderes políticos e a população de ambas as cidades se sensibilizem com esse exemplo e passem a agir de forma semelhante", diz o historiador.


Océlio sugere às autoridades municipais e eclesiásticas que procurem incluir a Igreja da Sé - local de batismo do Padre Cícero e que tem atraído muitos romeiros - no chamado "Roteiro da Fé", em elaboração pela Secretaria das Cidades do Ceará e Secretaria de Turismo e Romarias de Juazeiro do Norte.


Romeiros


Enquanto o roteiro não é oficializado, alguns romeiros já incluíram o Crato na programação de visitas. A "frotista" Teresinha de Jesus diz que saiu de Recife, num ônibus com 50 passageiros, com o Crato incluído no roteiro. A devota Maria da Conceição Monteiro ficou impressionada com o que viu. O que mais lhe chamou a atenção, segundo afirmou, foi a pia onde o Padre Cícero foi batizado.


Para os romeiros, a presença da imagem do Padre Cícero dentro da igreja é um fato normal. Eles desconhecem os acontecimentos históricos que resultaram na suspensão das ordens do sacerdote. Indiferentes às rivalidades entre os municípios de Crato e Juazeiro, por questões religiosas, eles cantam, rezam e passeiam na Praça da Sé. O paraibano de João Pessoa, Antônio Vieira Cristino que, pela primeira vez visita o Crato, diz que tudo é muito bonito. "Dá gosto sair de casa para ver os locais por onde o Padim passou".


MAIS INFORMAÇÕES

CúRIA Diocesana

Rua Teófilo Siqueira, 631

(88) 3521.1110



SEDE DO BISPADO

Pastoral das Romarias acolhe devotos do "Padim"


Crato. Além das imagens do Padre Cícero e de Nossa Senhora das Dores, foi colocada uma faixa ao lado da Sé Catedral com o seguinte convite: "A Pastoral das Romarias da Sé Cátedra acolhe, com todo amor, os romeiros da Mãe de Deus que visitam o berço do Padre Cícero". A cada ano que passa, aumenta o número de romeiros que visitam a Catedral de Nossa Senhora da Penha, sede do Bispado da cidade do Crato.


Atento a esse fato e seguindo a orientação do bispo da Diocese do Crato, dom Fernando Panico, o cura da Sé, padre Edmilson Neves, criou a Pastoral das Romarias e tem dado toda a atenção aos devotos que visitam a Igreja onde Padre Cícero foi batizado. Já foi instituída na Catedral a Missa do Romeiro.


A visita dos fiéis à Sé Catedral é acompanhada por jovens da Confraria de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que rezam com os devotos. O presidente da organização religiosa, Meridiano Rodrigues, diz que a orientação é no sentido de que o romeiro seja bem acolhido. Para isso, até uma lanchonete foi montada ao lado da igreja para evitar, segundo afirmou, que os romeiros sejam explorados.


Processo no Vaticano


A eventual canonização do Padre Cícero passa primeiro pela reabilitação. O processo solicitando deu entrada no Vaticano no dia 1º de junho de 2006. Na carta ao papa Bento XVI, por ocasião da entrega dos documentos à Congregação para a Doutrina da Fé, dom Fernando afirmava: "Venho, com toda esperança e humildade, suplicar a Vossa Santidade que se digne reabilitar canonicamente o Padre Cícero Romão Baptista, libertando-o de qualquer sombra e resquício das acusações por ele sofridas". A visita da caravana do Cariri ao Vaticano foi acompanhada pelo Diário do Nordeste, que publicou reportagens exclusivas sobre o tema. Para reforçar os argumentos, a comitiva levou também um abaixoassinado com 150 mil nomes e um documento assinado por cerca de 270 bispos brasileiros, que estavam reunidos em Itaci, São Paulo, pedindo a revisão histórica e eclesial do caso.


O mais importante dos documentos entregues ao Vaticano foi uma petição assinada por dom Fernando Panico. No final do ano passado, por ocasião da visita ad limina dos bispos Nordeste a Roma, o papa Bento XVI prometeu mandar apressar a análise dos documentos, o que aumentou as expectativas dos católicos devotos. Até o momento, de acordo com a Cúria Diocesana, não chegou nenhuma informação sobre o resultados dos estudos. O próprio bispo dom Fernando admite que o processo é lento.


ANTÔNIO VICELMO - Repórter
Fonte: Diário do Nordeste / Regional

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MORRE DR. BORGES





É com muita tristeza que o Cariri recebe a notícia da morte, por volta das 16 horas desta quarta-feira, no Hospital São Miguel, do advogado e escritor Raimundo de Oliveira Borges. O corpo está sendo velado no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri (Urca) e o sepultamento será as 17 horas desta quinta-feira, ao lado do jazigo da esposa, no Cemitério do Crato.
Raimundo de Oliveira Borges nasceu em São Pedro do Crato, hoje Caririaçu, no dia 2 de julho de 1907, era filho de Clemente Ferreira Borges e Maria José de Oliveira Borges. Realizou o curso primário na sua terra natal e o curso secundário no Colégio São José do Crato, Instituto Araripe Júnior, Instituto Menezes Pimentel, Liceu do Ceará, em Fortaleza e Ginásio da Bahia, em Salvador.
Foi aprovado e ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia em 1928, depois transferiu seus estudos para a Faculdade de Medicina de Pernambuco, sem concluí-los. Direcionou sua atenção para a Faculdade de Direito do Ceará em 1933, tendo sido o orador da turma que colou grau em 1937.
Iniciou sua carreira profissional na função de promotor de justiça nas comarcas de Tauá, Missão Velha e Crato. Depois se afastou do Ministério Público e começou a exercer a advocacia.

Na cidade do Crato foi diretor das três faculdades que deram origem à Universidade Regional do cariri. Na Câmara do Crato foi vereador e alcançou a suplência de deputado estadual pelo antigo PSP. É cidadão honorário do município desde 1975.

Obras
Crime de Injúria verbal (1945)
Interdito Probitório (1963)
A Eloqüência e o Direito (1963)
A Cidade do Crato (1980)
Monsenhor Doutor Eugênio Veiga (1974)
Serra de São Pedro, esboço histórico (1983)
Memórias, fragmentos de minha vida (1988)
A presença de Euclides da Cunha na nossa história (1962)
Visita de Nossa Senhora de Fátima a Caririaçu
A Árvore Amiga (1995)
Euclides da Cunha e a Unidade Nacional
O Coronel Belém do Crato, um injustiçado
Eles e Eu, mensagens gratificantes
O Engenho Taquari
Síntese Histórica da Câmara Municipal de Caririaçu
O Crato Intelectual
Memória Histórica da Comarca do Crato
O Padre Cícero e a Educação em Juazeiro
Clemente Ferreira Borges, Meu Pai
Discursos Acadêmicos
Árvore Genealógica da Família Borges
Os Bispos do Crato, Relembranças Inesquecíveis
Meditações e Saudades
Reminiscências, o Meu Itinerário (2007)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PADRE CÍCERO: O QUARTO VIGÁRIO DE SÃO PEDRO

A paróquia de São Pedro foi criada em 9 de novembro de 1870 pela Lei Provincial 1362. Só mais tarde, no dia 18 de abril do ano seguinte saiu a provisão canônica assinada por D. Luiz Antonio dos Santos. O Padre Manoel Carlos da Silva Peixoto foi nomeado o primeiro vigário e após dois anos junto a freguesia foi substituído pelo padre Manoel Rodrigues de Lima que ficou durante dez anos. O terceiro vigário – João Carlos Augusto natural de Lavras da Mangabeira foi nomeado em janeiro de 1884, ficando à frente da paróquia até o dia 21 de setembro de 1888, mesma data em que foi nomeado o padre Cícero Romão Batista que tomou posse no dia 29 de janeiro de 1889 e exerceu as funções durante quatro anos aproximadamente. Nos domingos e dias santos celebrava missa pela manhã na Capela de N.S. das Dores em Juazeiro e seguia para São Pedro onde celebrava e passava o resto do dia fazendo batizados, casamentos e confessando fieis, só regressando à tardinha. Cumpre não esquecer que o Padre Cícero, sempre foi, intimamente, um monarquista. Quando se deu a proclamação do regime republicano no Brasil, ele era vigário da Paróquia de São Pedro do Cariri, ficando indignado com este acontecimento. A vitória republicana, segundo o pesquisador Aldenor Benevides – proporcionou ao padre, uma tal revolta, a ponto de, pouco tempo depois, um republicano de nome Dr. Francisco Marçal da Silveira Garcia, ex-juiz do Crato, indo a São Pedro do Cariri acompanhado de alguns militares, numa campanha contra o imperador, ter dado lugar a que o Padre Cícero, por ocasião da missa dominical fizesse um sermão contra o novo regime. Naquela prática pediu que ninguém acompanhasse o Dr. Garcia e nem tampouco temesse os seus soldados porque em São Pedro do Cariri quem mandava era ele, Padre Cícero.Dois meses após ter tomado posse como vigário da cidade serrana no dia 1º de março um fato extraordinário transformou a rotina do Juazeiro, onde o reverendo morava. Naquela data, ao participar de uma comunhão reparadora, oficiada por ele, uma beata muito piedosa, chamada Maria de Araújo, ao receber a hóstia consagrada não pôde degluti-la porque a mesma se transformara em sangue diante dos olhos de todos. A notícia correu e, em pouco tempo, legiões de pessoas vinham de longe para assistir de perto ao fenômeno. Apesar de ter sido testemunhado por muitas pessoas dignas, mais de uma dezena de padres da região e ter sido atestado por dois médicos e um farmacêutico como sendo um fato sobrenatural, a Igreja nunca considerou o sangramento da hóstia como milagre. Mais tarde, os chamados Milagres do Juazeiro passaram a ser estudados por diversos cientistas sociais no Brasil e no Exterior e Juazeiro do Norte, por ser uma cidade mística, tem sido objeto de vários documentários, o que faz muito conhecida e famosa. O fato chamou a atenção do povo sofrido do Nordeste. Os romeiros invadiram Juazeiro, sob a proteção de Nossa Senhora das Dores e da fama da santidade do Padre. Algumas famílias vieram para ficar e muitas delas foram enviadas pelo sacerdote para a Serra de São Pedro e outras terras de boa fertilidade da região. Mesmo com as pressões de Roma, Padre Cícero continuou celebrando em Juazeiro e ainda ficou como vigário de São Pedro do Cariri até o dia 6 de agosto de 1892. Durante toda sua vida ele tentou revogar a pena aplicada pela Igreja Católica, todavia, foi em vão. O resultado de tudo isso foi que jamais se provou que a transformação da hóstia em sangue era uma farsa.

Fonte: Jornal Popular